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Agro está cada vez mais atento à reciclagem e reutilização de materiais


fonte: https://revistagloborural.globo.com/Um-So-Planeta/noticia/2021/03/agro-esta-cada-vez-mais-atento-reciclagem-e-reutilizacao-de-materiais.html
categoria: Orgânico

  • FERNANDO BARBOSA

28 MAR 2021 - 07H45 ATUALIZADO EM 28 MAR 2021 - 07H45

Após o uso, o silo-bolsa é utilizado na fabricação de sacolas de lixo e embalagens (Foto: Getty Images)

*Publicada originalmente na edição 424 de Globo Rural (março/2021)

Para quem observa o Brasil entre os principais fornecedores mundiais de alimentos do século XXI, com projeção de superar os 268 milhões de toneladas de grãos nesta safra, não imagina o trabalho árduo feito nos últimos anos para atingir tamanha produtividade. Além do uso de tecnologia dentro e fora da porteira e da profissionalização da gestão nas propriedades rurais, a atuação ambientalmente responsável tem sido preponderante para um resultado que impressiona.

O avanço dos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), a recuperação de pastagens degradadas e o uso intensivo da agricultura de precisão são alguns modelos dessa nova agricultura verde. Mas muito mais do que os processos, os materiais utilizados no campo também são alvo de preocupações dos produtores.

Um exemplo de bom custo-benefício – e responsabilidade ambiental – é o silo-bolsa (ou silo-bag), espécie de armazém “móvel”, fabricado a partir de plástico polietileno, uma solução relativamente barata (entre R$ 1 e R$ 2 por saca de grão armazenada).

SAIBA MAIS

Hector Mallinarich, diretor técnico da argentina Ipesa, companhia líder no mercado nacional, explica que a resistência da lona do silo-bag suporta o armazenamento de grãos por até 24 meses, embora a grande maioria dos agricultores o faça por um período bem mais curto, entre quatro e seis meses. Isso para preservar a qualidade dos grãos.

Após lavagem, secagem, aquecimento e peletização do plástico do silo-bag, é possível fabricar produtos como sacolas de lixo e embalagens. Outra vertente para reutilização que é pequena, mas vem crescendo, é a compactação para aplicação na construção civil, como tijolos, telhas e placas. Na agricultura, é aproveitado, ainda, para impermeabilizar depósitos de água para irrigação.


No ano passado, foram recolhidas 49.881 toneladas de embalagens de defensivos, volume 9,47 vezes maior que no ano anterior (Foto: Divulgação)

No ano passado, foram recolhidas 49.881 toneladas de embalagens de defensivos, volume 9,47 vezes maior que no ano anterior (Foto: Divulgação)

O uso de plástico na agricultura não está entre as principais atividades industriais, pois corresponde a 3,1% e aparece atrás de setores como construção civil (22,5%), alimentos (20,5%) e bebidas (6,1%), de acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast).

Mas sua utilização já surge em 14 etapas principais da produção no campo – que, além de armazenagem, abrange cultivos protegidos (estufas), irrigação, máquinas e equipamentos e embalagens.

No caso das embalagens de defensivos agrícolas, a atuação sustentáveljá vemde longoprazo. No começodos anos 1990, 70% das embalagens de agrotóxicos eram queimadas, em sua maioria ao ar livre. O restante ficava exposto de maneira irregular, era reutilizado pelo agricultor ou mesmo enterrado, gerando risco de contaminação do solo.
“A primeira ideia para resolver o gargalo foi buscar as embalagens nas fazendas”, relembra João Cesar Rando, diretor-presidente do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV). “Mas o Brasil é um país continental, com milhares de propriedades agrícolas. Seria impossível realizar uma logística como essa.”

Foi então que um projeto piloto em meados daquela década começou a dar um rumo diferente a essa história. A indústria começou a se organizar para que os defensivos fizessem o trajeto oposto da comercialização, que sai da fábrica para o revendedor ou cooperativa até chegar ao agricultor. “Por que não poderíamos usar o caminho inverso para trazer de volta essa embalagem?”, indaga o presidente do inpEV.


No ano 2000, foi aprovada a legislação que compartilhava entre os agricultores e a agroindústria a responsabilidade pelo descarte do material. O próprio inpEV nasceu no ano seguinte, a fim de organizar o programa de logística reversa, conhecido como Sistema Campo Limpo.

Para enviar a embalagem, o produtor deve lavá-la três vezes, perfurar o fundo do recipiente, para que seja inutilizado, e devolver em um local indicado pela revenda dos defensivos. A indústria fica responsável por destinar o plástico para reciclagem ou incineração.

Os números dos quase 20 anos mostram a eficiência e a importância do sistema. Em 2002, primeiro ano do programa, foram recolhidas cerca de 3,7 mil toneladas de embalagens de defensivos, em caminhões que comportavam até 6 toneladas. Com a compactação e segregação do material já na origem (embalagem rígida, flexível ou de papelão), os caminhões suportam agora até 14 toneladas.


(Gráfico: Editora Globo)

Desde 2002, o trabalho do inpEV enviou para a finalidade ambientalmente correta ou incineração de forma adequada 600 mil toneladas de embalagens plásticas de defensivos. Hoje, de cada 100 embalagens de agrotóxicos recolhidas, 94 são recicladas e apenas seis são incineradas.

"É um sistema ambiental completo, que está ligado a economia circular, atendendo ao lado social, econômico e ambiental""

João Cesar Rando, diretor-presidente do inpEV

Em 2020, ano em que a disseminação do coronavírus exigiu medidas de isolamento social, foram recolhidas 49.881 toneladas – aumento de 4.318 toneladas (9,47%) sobre o ano anterior. Desse montante, e também do papelão recolhido, são fabricados 31 produtos de origem reciclada, como as próprias embalagens e a tampa que levam os defensivos ao campo, além de conduítes e dutos, drenos e conexões e tubos para esgoto. Nesse verdadeiro mutirão verde, 1,8 milhão de propriedades agrícolas, 4,5 mil cooperativas e 400 unidades de recebimento em todo o país estão envolvidas, além da coleta itinerante para atender aos agricultores familiares.

O programa gera 1,5 mil empregos de forma direta. “É um sistema completo, que está ligado à economia circular, atendendo ao lado social, econômico e ambiental, que é a finalidade do nosso trabalho”, diz o presidente do inpEV.

Agora, a organização quer mais. Sem dar detalhes, explica que há uma proposta de realizar o mesmo trabalho com embalagens de fertilizantes, algo promissor para
uma agricultura que vem se destacando entre os principais players do mundo.

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