Busca

noticias

Estudos recentes: está claro que só vale a pena mesmo reciclar latas de alumínio, papel e papelão

Dados os estudos recentes sobre o tema (US EPA, 2013; Waste Management, 2016), está claro que só vale a pena mesmo reciclar latas de alumínio, papel e
fonte: http://cetecambiental.eco.br
categoria: Meio Ambiente

Surpreendente, mas após quase vinte anos de pesquisas e muitas experiências de projetos de reciclagem em todo o mundo, é inegável a conclusão que devemos nos esforçar para implementar a reciclagem como ferramenta e política ambiental somente onde for comprovadamente compensadora. A ideologia simplista de que reciclar é sempre aconselhável não tem mérito técnico, e em muitos casos é até contraproducente.

Pessoalmente, fico revoltado quando até nas escolas se apresenta um trabalho de arte com resíduos (como garrafas PET) como sendo um projeto de reciclagem. Como projeto de incentivo à imaginação, à arte, ao desenvolvimento intelectual das crianças, ou como diversão, é um ótimo trabalho. Como exemplo de reciclagem, é um péssimo exemplo! Absolutamente inútil, pois o resultado desses trabalhos em pouco tempo volta a ser mais resíduos, e o custo, se contabilizados o esforço, tempo, insumos, etc., é imensamente superior ao ínfimo benefício ambiental de retirar umas poucas garrafas PET do fluxo de resíduos que iria para algum aterro.
Idem para uma iniciativa recentemente veiculada, sobre a fabricação de armação de óculos com materiais reciclados. Como técnica fabril, pode ser uma boa ideia, se de fato resultar em um produto com um bom desempenho técnico. Como forma de reduzir a quantidade de resíduos que iriam para um aterro, utilizando esses resíduos na fabricação de óculos, produz resultados tão insignificantes que praticamente qualquer custo relacionado especificamente a esse processo, torna esse esforço não compensador.
Uma iniciativa de reciclagem que utilize mais recursos para sua operacionalização do que os benefícios produzidos têm um retorno negativo, simples assim. Precificando insumos e benefícios, chegamos à conclusão de que tal iniciativa produz danos ambientais, não benefícios. Até mesmo as emissões relativas a esse esforço seriam maiores do que as emissões evitadas.
O ambientalismo sério pressupõe que não apoiemos esforços inúteis ou contraproducentes, que não coloquemos o marketing acima dos resultados efetivamente alcançados. Lembram daquela árvore retirada para que fosse colocada uma placa que dizia para proteger as árvores?
No meio dos ambientalistas, onde milito, frequentemente vemos reações alérgicas a propostas para usar o mercado como forma da alocação ideal de recursos escassos, e outros mecanismos do mercado e de preços. Mas como economista de formação, estou convicto que a melhor forma de alocar recursos é um sistema eficiente de preços de mercado, onde todos os insumos e produtos e são precificados, e as externalidades (positivas e negativas) são internalizadas, tanto quanto possível. O resultado são decisões que maximizam benefícios, inclusive os ambientais, internalizados e precificados. Um mercado eficiente permite, inclusive, implementar políticas desejadas, para deslocar as decisões na direção desejada, utilizando incentivos ou desincentivos, via cobrança adicional ou subsidio. Seria o caso, por exemplo, de uma taxa sobre o lixo não reciclado, destinado a aterros.
Em reportagem do respeitado colunista do New York Times Science Section, John Tierney (NY Times, 2015), ele mostra que estamos desperdiçando esforços, ao insistir em estabelecer projetos de reciclagem para todas os resíduos da cadeia produtiva. E que devemos utilizar um mercado precificado de resíduos como forma de concentrar esforços na reciclagem das cadeias que têm a melhor razão custo/benefício, ou seja, os que proporcionam o maior retorno em redução de emissões e outros benefícios ambientais, em relação ao custo da reciclagem em si.
Aí, conseguiríamos aumentar o índice de reciclagem para esses produtos, e teríamos um sistema mais eficiente como um todo.
Isso não quer dizer que individualmente, pessoas e empresas não possam estabelecer pequenas cadeias de reciclagem de determinados resíduos, que ainda poderiam funcionar de forma eficiente, produzindo resultados de forma eficaz. Entretanto, precisamos seguir uma ordem de prioridade para os esforços dispendidos para implementar a reciclagem.
Essa sim seria a forma mais ambientalmente eficiente de obter o maior benefício ambiental possível.
Referências
NY Times, 2015. The Reign of Recycling. 3 out 2015. Disponível em 
https://www.nytimes.com/2015/10/04/opinion/sunday/the-reign-of-recycling.html.
US EPA. 2013. WARM – Waste Reduction Model. Disponível em https://www.epa.gov/warm.
Waste Management. 2016. Recycling. 2016 Sustainability Report. Disponível em 
http://sustainability.wm.com/waste/recycling.php.

Artigo publicado originalmente em: https://www.linkedin.com/pulse/reciclagem-racional-cleveland-m-jones?trk=hp-feed-article-title-share

Por Cleveland M. Jones

© Copyright 2012-2024 - sucatas.com ® | Design Media Farm | Desenvolvimento: Bagus TI Consultoria